sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

No Jardim.

"Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."
Clarice Lispector

Confesso que quando Heitor permitiu-me sair ao jardim meu coração saltou de felicidade e alivio. Agora que eu estava sozinha no jardim, e somente alguns casais estavam a caminhar tão distraídos, que nem podiam sentir a minha presença. Então, só que me restava era torcer para que mamãe não me visse também ali sozinha. Seria um interrogatório que eu não estava nem um pouco com vontade de presenciar. Tudo que minha mãe queria era que eu me casasse logo com Heitor, nada mais.
Caminhei entre os casais e pude enfim me afastar das vistas perigosas de minha mãe. Na verdade nem eu sabia para onde estava caminhando, sabia que algo me levava algo me atraia para aquele local como um imã.
E lá, no fim do jardim, próximo do canteiro de margaridas ele estava.
O reconheci por seu perfume. Seu dorso de cavalheiro. Sua presença magistral e misteriosa, e,  que no entanto, eu e ele já éramos velhos conhecidos... conhecidos de longas datas.
Na manhã daquele mesmo dia, eu havia recebido a sua carta. Depois de quase 10 anos. Depois de tantas lágrimas de saudade, depois de tantos sonhos...
Era Davi. Ele retornara.
Paralisei-me, e em devaneios de lembranças, de um passado que nunca esqueci, uma onde de calor percorreu-me o corpo. Era ele. Ele retornara. Como se o passado ressuscitasse de sua cova e viesse como uma assombração me atormentar. Um tormento que eu tanto esperei, desejei com toda força da minha alma.
Ele virou-se lentamente, como se já previsse todos os meus passos, como se lesse meus pensamentos mais íntimos. E enfim, ali sim, sob as luzes do jardim e da lua, puder ver que seu rosto ainda continuava belo; os olhos castanhos eram os mesmos da nossa infância e o brilho dos seus cabelos ainda continuava ali. Uma beleza que poucos tinham, era diferente de tudo que havia visto. Era ele enfim. Somente ele poderia me fazer sentir aquilo que eu sentia naquele instante.
- Quanto tempo Amélia... quanto tempo faz, dez anos? – falou ele, e as suas palavras pesavam. Eram como pedras em minhas costas.
- Dez infinitos anos. – respondi vacilante e envergonhada.
- Pois agora, minha Dona, não perderemos mais tempo.
E abraçou-me. Um abraço aveludado, intenso... um abraço que eu sentia que era só meu, um abraço que guardamos depois de tanto tempo.




5 comentários:

  1. Oi Andressa, é a primeira vez que eu venho aqui..Muito fofo o seu blog, e teus contos de um encanto total, eu viajei pelas letras e nos sentimentos. Parecia até real Davi e Amélia...

    Um grande beijo venha me visitar...abraços

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  2. Olá Luanda! Seja muito bem-vinda! Muito obrigada pela presença e por seus elogios, é uma honra!
    Essa é uma história que aos poucos estou desenrolando aqui no blog.. já estamos do 4 dia! Espero vê-la sempre por aqui para conferir no que isso vai dar!
    Vai ser um prazer visita-la! Abraços!

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  3. Percebi mesmo, amooo acompanhar historinhas assim! Melhor que novela hehehe!

    Muito obrigada por teu carinho, é sou assim mesmo respiro poesia, sou viciada nisto, mas depois que converti-me aos pés do Senhor, tenho mantido este propósito comigo, de tudo levar a ele, dos sentimentos bons aos ruins...tudo que eu sinto. As situações que eu passo, enfim minha vida.

    Um grande abraço moça bonita. Sempre estarei aqui sim pode ter certeza.

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  4. Luanda, como sempre com belas palavras.. só tenho a agradeçer...

    Pri! Bem-vinda! Obrigada pelos elogios! Espero vê-la por aqui! *-*

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