terça-feira, 26 de julho de 2011

Em terreno sagrado.

"Mas seus pés tinham a milenar desconfiança da possibilidade de pisar em alguma coisa que se mova — os pés apalpavam a moleza suspeita daquilo que aproveita a escuridão para existir. Pelos pés ele entrou em contato com esse modo de ceder e poder ser moldado que é por onde se entra no pior da noite: na sua permissão. Não sabia onde pisava, se bem que através dos sapatos que se haviam tornado um meio de comunicação, ele sentisse a dubiedade da terra."


Clarice Lispector - Trecho de 'A maçã no Escuro'

sábado, 16 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

As Águias


Chega o dia, um certo momento na vida de qualquer águia, o momento mais emblemático talvez. Em que no topo mais alto, da montanha mais alta, rodeada de nuvens e em total desarmonia com seu corpo cansado, a águia arranca as próprias penas, as próprias garras e o próprio bico. Na tentativa desenfreada de renascer, tal como a fênix.
Amigos não me procurem! Estou nas montanhas! Estou fraca e com dores. Mas não se preocupem. Estou evoluindo. A dor, que por tantas vezes evitei, agora me faz lembrar continuamente de que estou viva, e que necessito arrancar todas as penas velhas, arrancar as lembranças passadas e deixar nascer minhas penas novas, para que assim possa voltar a voar com elegância e graça.
Diante desse processo, arrancar minhas garras, que por tanto tempo ágeis ferramentas, armas de caça que tanto me serviram também se faz necessário. Predadores como eu, que tem que lutar para viver e para não morrer, tem que saber aperfeiçoar suas armas, que por muitas vezes, são a única coisa que restam.
Por ultimo, talvez este processo seja o mais difícil e doloso então. O de arrancar a voz. O de fazer silenciar o grito. De ver cair por terras às palavras cantadas. Arrancar o bico. Arrancar a voz. E nas profundezas da montanha mais alta, do pico mais alto. Mergulhar na evolução. Sentir em carne viva as dores dessa evolução. Saber que o futuro reserva novas andanças, novas desventuras e que este corpo cansado e velho não poderia mais aguentar.
Amigos! Não me procurem! Estou evoluindo!
Para que ao descer da montanha mais alta, eu possa enxergá-los com classe. Para que eu sobreviva a mais intempéries. Para que eu apenas respire. Para que eu apenas viva, reviva, tal como a fênix. 


Andressa Virgínia