quinta-feira, 30 de junho de 2011

Água Viva.

"Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do longe - de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais. Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo."

Clarice Lispector

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Junho Mutante,



Os dias de desfigurar seguem-se. Desfigurar os sorrisos e as lágrimas. Fingir sorrir, longe de você, é complicado. Esconder-me no quarto, sorrir nas fotos, ver as tardes mutantes de um mês de Junho frio. Eis meus dias de finitude de ideias.
Nem a poesia me enche de graça. Nem meus livros empoeirados nas minhas estantes. Nem os filmes antigos. Nem as fotografias que nunca tiramos. Nem eu.
Que esse Junho passe. Que a mutação termine. E que a lua no céu possa me explicar o que sinto.

Andressa Virgínia

terça-feira, 21 de junho de 2011

A um ausente.

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eu não sabia que existia...


Não sabia até sentir pela primeira vez. Quando a saudade me visitou levei um susto, não sabia que era tão fria. Tão fria como a face polida de um espelho. Ela chegou e não quis mais sair, chegou e não teve fim, chegou pra ficar e me enlouquecer.
E enlouqueci.
Não sei mais pra onde vou, com quem vou... os dias andam devagar. As noites teimam comigo nas angustias e nas insônias. Minha única companhia é a saudade. Trêmula, muda e totalmente incapaz de pelo menos dizer que daqui a algumas semanas você vai voltar e preencher de afeto essa frieza.
E encher de luz meus dias de cinza. E fazer parar de sangrar meu coração desacostumado. 

Andressa Virgínia