segunda-feira, 12 de novembro de 2012

As árvores do sertão não estão mortas.


Aquele é o tempo em que o sertão está morto. Refiro-me as árvores que, como fantasmas, assombram a paisagem, assustam os olhos. As arvores do sertão estão mortas. Não há uma gota sequer de vida em suas folhagens. É essa a visão de que vê o sertão inteiro. Essa é a visão de quem não chega perto, de quem não se apropria desse chão. No entanto, é só se aproximar, só chegar mais próximo, ao caule dessa árvore para notar que ela ao esta morta. Sim, as arvores do sertão não estão mortas. Elas adormecem em meio à clareza de uma estiagem que quase não acaba.
De sertão são feitas as pessoas, quando olhadas de longe por inteiro, parecem mortas. Parecem que ainda não acharam um motivo fiel para continuar. No entanto, você incrédulo, as mulheres do sertão não estão mortas. Há muita vida em suas veias, assim como há muita vida nas rachaduras das folhas das copas. 

Andressa Virgínia

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Aquilo que nunca a pertenceu.


A história dela sempre foi contada pelo fim. Nunca houve um começo. Para que ela escreva, ela tem que descobrir algo. E descobrir que aquilo que pensava ser, estar e participar, e que, na verdade nunca a tomou. Ela nunca estive ali. Ela nunca foi de dentro daqueles ares. Quando se descobriu, quando pode enfim, cair do penhasco o qual já estava na beirada, pode perceber que não podia mais ser dali... tinha de sair, ir embora. Não voltar. E é isso que vai fazer. A partir de tudo isso que pode compreender estar o mais rápido possível longe daquele lugar, para ela, vai ser bem menos dolorido. Hoje dói. Amanha cicatriza. Foram assim, as duras penas, que aprendeu a se virar, da maneira que quis do jeito que dá. E sempre há, alguém que lhe estenda a mão. Nunca lhe faltou ombros para que pudesse dividir seus pesares, suas lamentações, e as aflições desiludidas de falsas esperanças em futuros melhores.

Aquilo que nunca a pertenceu vai continuar ali parada, estática, continuando a não lhe pertencer. Resta apenas a lembrança daquilo que ela sempre desejou que fosse. Um lugar pra onde pudesse retornar. Agora não. Ela não tem mais para onde voltar, e de novo, esta só. Mas é provisório. É por pouco tempo.  E há de ser um historia que será contada por inteiro, com inicio e final. 

Andressa Virgínia

terça-feira, 10 de julho de 2012

A Casa Vazia


Não é de se estranhar que ela seja assim. Ela diz que prefere a casa vazia, que prefere ouvir seus próprios passos, ela deseja falar só. Porque ela só consegue se concentrar no silencio do vento que invade o quarto e embala seus sonhos.

Ela que vivia na colorida presença cheia da gritaria diária, prefere hoje, colorir seus dias ao sabor da ventania das janelas, prefere concordar, acordar e discordar de seus pensamentos, e acha muito digno, dar nós bem apertados nas tristezas e jogá-los pela janela, onde os carros correm em suas corridas contra o tempo. Quando a casa está vazia ela canta junto com os pássaros canções que nunca ouviu.

E essas janelas desta casa silenciosa, sempre estão abertas. Para o entra e sai da ventania das palavras, e dessas poesias de uma (des)poeta.  E não creia, caro, que assim ela é infeliz, ao contrario! Ela é bem feliz assim. Vai entender? São coisas da vida...

Andressa Virgínia

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Dois!


Indiscutivelmente o número 2 me faz problemas sempre houve algo de bonito nessas questões... esse nosso corpo é duplicado, em todos os sentidos. Nós temos dois olhos, dois ouvidos, dois pulmões, duas mãos.  Precisamos socialmente de uma outra pessoas para fazermos um par, um par que se comunique, que se incremente, e que se faça com duas pessoas um laço! Há  algo muito especial nos braços e nos abraços... eles formam mais que pares de braços, forma laços em pessoa! E, para essa nossa conversa, caro, nós também temos dois braços.
Duas pessoas que se afetam, duas pontas de laço, dois pares de braços que se abraçam... dois anos de blog! Bom, tenho que confessar, e que o destino propôs, o aniversário do blog foi ontem, dia 2 de maio! Mas aqui estou eu a reavivar esses dois anos de intensa vivencia, de real sentimento sobre este meu maior mimo!
Que de dois em dois, nós, eu e vocês, pares nesse mundo, reavivamos esses nossos laços!
Abraços entrelaçados de braços a nós! 


Andressa Virgínia

domingo, 22 de abril de 2012

Sinos de Vento.


Indiscutivelmente, o lugar pra onde vou tem cheiro de chuva. Este meu céu nublado não nega minhas raízes. Eu vim do solo úmido, do vento frio, vim das coisas difíceis. Respondo mal. Sou grossa. Meus escândalos, tão vulneráveis, falam mais sobre mim do que eu mesma, do que meus escritos... do que essas palavras desconexas em um discurso de um sujeito que ainda não sabe a quem agradecer.

Quando volto, refaço-me. Quando volto, sinos de vento me recebem da sacada de uma varanda desconhecida. São eles que me reconhecem. Não há julgamentos, não há fins
.
Eu ando escrevendo pouco, e caminhando sozinha muito. Deve estar aí à resposta. Caminhar sozinha demais cansa.  No entanto, caríssimo, é ora de reorganizar o discurso, alinhar a postura, esquecer a doença.

É hora de voltar a escrever.

Andressa Virgínia 

sábado, 3 de março de 2012

Carta a um amigo distante.

Caro amigo,

Quando Abril chegar, quero que chegues também. É chegada a hora de estreitar os laços, e ouvir as vozes. Há muito mais distancia entre nós, do que um dia eu pude supor. E a quilômetros também. Muitos. Se a vida tem sido complicada, saibas que não estás completamente solitário nessa jornada. E se a vida é de fato, complicada, saibas também, que não fizeste esta descoberta sozinho. A vida está sendo complicada para todos. No entanto, caro, há momentos em que devemos celebrar. E não há graça nem beleza celebrar emudecido. Por isso eu quero que venhas logo. Mesmo que, para que tu possas vir, demore uns dias, talvez semanas.
Penso, que na tua jornada de volta, possas enxergar muita névoa no caminho. É normal. É necessário vencer a escuridão de uma noite triste, para que o sol possa brilhar novamente. Também entendo que tu possas vir com várias cicatrizes, de outrora. De anos na distancia, de quilômetros que nunca foram vencidos, mas aqui, caro amigo, há pessoas dispostas a ajudar e a contar tuas cicatrizes, para que juntos as coloquemos em papel.
Mas para que tu possas vir em paz, é preciso que venhas desarmado. Não existe rancor deste lado. E a única pessoa capaz de estagnar tua evolução és tu mesmo. As palavras já foram ditas, e uma vez ditas, jamais retornam. Por isso, para que tu inicies teu retorno, é necessário que venhas sem malas, sem pesos, sem documentos. Existe algo muito peculiar nas tomadas de decisões. Por mais que escutemos as vozes alheias, no final, a decisão é unicamente tua, e de mais nada adiantará as opiniões de outros. Mesmo assim, caro amigo, quero que retornes. Cedo, ou tarde. Hoje ou amanha. Porque não importa mais o que o rio já levou. Novas águas sempre limpam antigas pedras. E o que mais me importa, nesse instante, é saber que Abril chegará, e tu também.

De outro, que muito te estima.

Andressa Virgínia

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

indefinições.

‎"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando [...] Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada. Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro... "


[Clarice Lispector]


Por hora a gente vive do que escreve. Bota pra fora as dores, as cores e os devaneios. Até porque não teria a menor graça escrever sobre o cotidiano comum. Bom mesmo é ver as palavras brilharem, é sentir o incomodo das pessoas...
Queria Deus eu não me importasse. Queira Deus fosse realmente simples. A verdade, é que não gosto de simplismos. Sou sagitariana, sou feita de excessos.  

Andressa Virgínia

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Ano do Dragão.

Este é um relato atemporal de mim mesma. Não há personagens, não há outras vozes. Há um grito. Um grito de quem iniciou o ano do dragão com muitas historias para contar. Esta pessoa que escreve poderia sim, ser considerado um personagem, no entanto, há implicações que me elevam a patamares maiores que este. Há sangue nas veias, e dor. Muita.
Eu cai. Literalmente. Meus pensamentos caíram, minha voz caiu, um grito afogado de lágrimas e más interpretações foi o que me restou. Alias, há de restar. Essa historia não tem final, aguas que não são de março, mas sim de dezembro, retrocederam. Dezembro, um mês que não volta. Assim como a musica cantada, e as palavras ditas, que uma vez dita são tatuagens dos ventos, só existem na respiração e na memoria das pessoas.
No entanto meu caro, meu êxtase não está em encontrar outras pessoas, não está em deitar-me a relva de ares quentes. Meu êxtase está no escrever. No sentir faltar-me sangue nas mãos, elas estão frias, como se eu escrevesse e morresse ao mesmo tempo, o que, de fato, existe. Escrevo para morrer em mim. Só assim renasço em outras vidas, com outros ventos.
As vezes, quando se torce o tornozelo, torcem-se outras coisas. E nesse vai-e-vem de quedas e dor, a gente acaba ficando mais tempo do que se esperava. A gente desfaz e faz mais laços que planejava. E passa madrugadas esperando acordar e ter um bom motivo para continuar.
Há muito no que aprender na solidão. Porque não há solidão quando aprendemos a estar-em-si. A viver-de-si. Mesmo que não existam bons almoços nos dias que se seguem. Eu si disso, porque eu sou isso. A incoerência difícil de dias difíceis.
E Deus, na sua infinita existência, presenteia-me todos os dias com o dom da possibilidade. Sim, caro, eu cai. E as dores de quedas como essa são bem ruins e dolorosas, no entanto, eu já estou pronta. Para cair novamente quem sabe, mas não para aguentar as mesmas desculpas, os mesmos relatos fracos. Eu tenho mil e uma cicatrizes. Mais uma, é mais uma história. E mais uma história é mais uma cicatriz, eis o preço que eu pago para pode enxergar com mais clareza, para poder crescer.
Eis o ano do dragão. Eis o fim e o inicio. Dezembro de fim e Janeiro de inicio. E agora é Fevereiro, e o carnaval, há de fazer-me bailarina de mim.

“[...]Passo as tardes tentando lhe telefonar...
Cartazes te procurando,
Aeronaves seguem pousando, sem você desembarcar[...]”

Andressa Virgínia