terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Birra.

Sempre acreditei ter sido uma criança que viveu uma infância deveras tranquila. Nunca ouvi relatos da minha família com afirmações do tipo; “menina tu eras danada demais!” Ou do tipo, “as coisas tinham de ser da tua vontade, era a criança mais birrenta que já conheci”. Não. Fui uma menina tranquila. Aqui ou acolá fazia um charminho, ia para um canto e fechava a cara. Fechar a cara eu fecho até hoje, então fica tudo certo.
Hoje, depois de adulta, deparo-me com birras próprias de menina mimada. De bater o pé no chão e espernear por qualquer coisa. Deparo-me chorando à toa por não conseguir algo bobo. Fico fitando as baboseiras que penso em voz alta na esperança de que “algum adulto” venha me socorrer.
E foi aí, meu amigo, que me ocorreu a pior coisa. O remorso da perca de tempo. Enquanto eu ficava parada fazendo a birra, chorando besteira, a vida fluía no seu curso. O tempo evaporava. Os processos me passavam e eu não percebia. Via-me com 5 anos no canto da sala porque negaram-me um pirulito antes do almoço.
Então parei. Parei de espernear, parei de culpar os outros pelos meus fracassos e fui eu mesma correr atrás do prejuízo. Prejuízo este que já consumia quase tudo em mim. Demorou, é verdade, mas a vida deu seu jeito. Bom mesmo é quando ela, a vida, dá-te uns sustos, presenteia-te com o real nu e cru na sua frente. E assim se fez.
Então, quando eu parei de espernear e quando o prejuízo e o remorso fizeram sua parte as coisas deslancharam. Voltei eu ao eixo, via as coisas claras como água. Pude me recompor. Então o tempo, meu fiel amante, veio-me presentear com o sossego do inesperado e com a calmaria dos sábios. Continuo eu a não saber nada da vida. A única coisa que sei é que meninas mimadas ficam de castigo na véspera do aniversário por não ter tido a paciência de esperar até o dia seguinte para abrir os presentes.