quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Entre apertos de mão.

"Amada! onde te deixas, onde vagas... Entre as vagas flores?"
Vinicius de Moraes


E lá estava eu. Sem saber o que de fato me acontecia, só sabia que agora Heitor estava ao meu lado e que haviam uma porção de mãos a se cumprimentar. Só depois de alguns minutos, pude situar-me de tudo a minha volta.
"- Amélia, Amélia querida! Um tostão por seus pensamentos!"
E todos os amigos presentes sorriram, e eu também não pude disfarçar o riso, riso amarelo, confesso, mas ainda assim foi um riso.
Heitor sempre tinha o dom de me fazer sorrir, tanto na escola, como na vizinhança e nas brincadeiras da infância. É fato que nos conhecíamos desde as fraldas e seria um fato também que futuramente estivéssemos casados. Esse sempre foi o desejo das nossas famílias. E assim o seria, e eu também queria que assim fosse. E no auge dos seus 25 anos, sua profissão de advogado já estava bem estabilizada, e a essa altura do campeonato, boas propostas de trabalho e amigos influentes não lhe faltavam. Nos principais jornais da cidade não faltavam elogios da critica e grandes promessas da nata da elite social de Fortaleza. E ele era uma promessa, eu sabia disso.
O que eu não sabia era que eu não me considerava uma promessa. Sempre fui desajeitada e desastrada demais com a vida; parece-me que nunca a tive por completo. Cresci sentindo que me faltava algo, por isso durante toda a minha caminhada descarregava os meus desafetos, mágoas, alegrias e pensamentos na música. O piano era com toda certeza meu melhor amigo; fiel de todas as horas. A boa educação, as boas festas de minha época, as amigas influentes... isso nunca me completou. Eu era e ainda sou uma peça perdida de um quebra-cabeça qualquer.
"- Heitor, estou ainda um pouco ofegante, vou ao jardim. Você me acompanha?"– sussurrei em seu ouvido, esperançosa de que poderíamos enfim respirar um ar mais fresco, longe de tantas mãos.
"- Amélia, infelizmente não posso ir. Você não vê? Quantas pessoas nesse baile! Será uma ótima oportunidade de firmar mais parcerias, gostaria muito de acompanha-la, minha querida, no entanto, você pode ir! Em seguida eu a encontrarei." – e aquele sorriso amarelo ainda não havia saído do meu rosto.
"- Tudo bem.  Eu o encontro mais tarde."
Heitor sabia o quanto conversar sobre negócios me irritava. Ele sabia mais de mim do que eu mesma poderia entender.
Ao caminhar pelo jardim, ao sair do meio da confusão de tantas pessoas, pude enfim reorganizar as ideias. Eu nunca me sentia muito bem em lugares barulhentos, fechados e com pessoas desinteressantes, mas eu queria muito estar ali naquela noite. Eu queria estar ali, porque ele havia retornado.



2 comentários:

  1. Ah, não acredito que Heitor não a acompanhou!?
    O que ele está querendo? Te perder?
    Hum, vamos esperar .. pra ver ;D

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