sábado, 29 de janeiro de 2011

A Cabeceira.

"O que tem de ser, tem muita força."
Guimarães Rosa

Naquela manhã eu havia recebido a sua carta. A sorte foi que meu pai a recebeu pelo carteiro, não minha mãe. Se ela tivesse ao menos tocado no envelope, naquela noite eu não sairia ao baile. 
Existem relacionamentos entre mãe e filha que são difíceis de entender. E é melhor que ninguém entenda mesmo. 
A maioria das pessoas enxergam relacionamentos assim como cheios de cores e doçuras. Eu não. E por mais que com palavras duras, minha mãe me machucasse, eu a amava. Amava com todo fervor que pudesse existir, talvez esse seja o motivo de tanta incoerência nesses meus pensamentos.
E além de tudo e todos em meu pai eu confiava a minha alma! Sem me pedir nada em troca, ele me ensinava sabedorias para a vida inteira. Existia em seus olhos palavras indefiníveis, que ao final da tarde, eram como mistérios semi-revelados, presentes concedidos apenas a mim. Portanto não me dedicarei a falar sobre meus pais, eles são apenas peças de xadrez de um jogo entre adversários.
E foi através de uma dessas palavras sem definição de meu pai que a carta de Davi foi parar na mesa de cabeceira do meu quanto, bem cedo, assim que eu acordava. Com certeza eu nunca saberei como aquela carta caiu nas mãos de papai, e acho que nem isso me interessava tanto. Ao acordar, meu pai estava sentado na cadeira da minha escrivaninha esperando que eu terminasse de despertar.
“- Boas novas minha flor. Trouxe boas lembranças para você.” – Disse ele calmamente.
Meio sonolenta, e sem entender absolutamente nada, ele faz sinal para que eu me voltasse à mesa de cabeceira.
E enquanto eu me voltava à mesa de cabeceira, meu pai se levantou e saiu. Mas pude ver em seus olhos; a decisão enfim havia chegado. Cabia só a mim dar uma resposta final. Pela primeira vez pude sentir o futuro nas mãos. 



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