"Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa."Clarice Lispector
Saiu do quarto desequilibrada, doente. O mundo girava muito rápido aquela noite, e o sol já despontava no horizonte. O sol era a única testemunha daquele evento. O sol e ela. Ele, já não existia mais, já tinha ido. Não sei pra onde. Não sei aonde vão aqueles que perderam a vida.
No quarto, o cheiro de perfume barato era forte. Ela acendeu um cigarro e foi a cozinha. O vestido de noiva sujo de sangue era observado de longe, jogado por cima do sofá da sala.
A cabeça dela doía. Ela por inteiro estava moída. Ela olhou pelas venezianas da janela, viu que o sol estava a gritar forte, sentiu o primeiro julgamento.
Ela ardia em devaneios. Enlouquecida. Ainda na cozinha abriu todas as bocas do fogão, deixando escapar o cheiro forte do gás. Queria fugir do perfume barato, do cigarro. Foi até a sala, onde ele guardava os discos velhos, que antes, na época das vacas gordas, eram o melhor passa-tempo de ambos. Ouvir discos antigos. Catou um velho disco de Caetano, colocou-o na vitrola quase centenária. Ao som de Caetano, dançou sua última valsa...
O gás já de espalhava sobre o pequeno apartamento. O cheiro já se sentia de longe. Caetano cantava alto e ela também. Quando sentiu-se pronta. Acendeu o último cigarro. Caetano cantava alto, ela gargalhava alto, e o fogo consumia o apartamento. Então fez-se o silencio da música, ouvia-se o choro da dor. Estava acabado. E por fim, não ouvia-se mais som algum... só o do fogo.
Andressa Virgínia
*Xistes a parte, eu devia a mim um texto cheio de loucuras como esse. E quem disse, que isto é loucura? Pode então ser uma realidade invertida...
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